30 de ago. de 2018

Brasil tem cerca de 30,8 mil imigrantes venezuelanos; somente em 2018 chegaram 10 mil, diz IBGE

Nesta quarta-feira (29) foi divulgada estimativa pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) aponta que cerca de 30,8 mil venezuelanos vivem no Brasil atualmente. Destes, aproximadamente 10 mil cruzaram a fronteira somente nos seis primeiros meses de 2018.
O levantamento do IBGE tem como base dados da Coordenação Geral de Polícia de Imigração da Polícia Federal a partir de 2015. Naquele ano, eram cerca de mil venezuelanos vivendo no país. Assim, em apenas três anos essa população aumentou 3.000%.
O aumento exponencial da imigração de venezuelanos para o Brasil tem relação direta com o agravamento da crise política, econômica e social do país, com inflação alta e desabastecimento. A cidade de Pacaraima, em Roraima, é a principal porta de entrada dos venezuelanos no Brasil.
Entre 2015 e 1º de julho de 2018, deram entrada no Brasil cerca de 30,2 mil venezuelanos. Para chegar ao número de 30,8 mil vivendo no país até o dia 1º de julho, o IBGE considerou movimentos inerentes a qualquer população residente em um país.
“Precisamos considerar aqueles que morreram, os que tiveram filhos e que migraram para outros países. Então, sobre toda a população de venezuelanos que entrou no país, aplicamos taxa de mortalidade e taxa de natalidade, por exemplo”, explicou a pesquisadora do IBGE, Izabel Merri.
De acordo com a pesquisadora, o IBGE não considera estimativas de imigrantes de outros países. “Para a população brasileira, é irrisória a população de imigrantes que entram no país e a forma como eles se espalham. Mas, para Roraima a gente teve que considerar a imigração venezuelana, por causa do contingente de pessoas daquele país buscando refúgio no Brasil”, explicou.
Família venezuelana é expulsa por brasileiros que vivem em Pacaraima, ao Norte de Roraima (Foto: Inaê Brandão/G1 RR)
Do total de venezuelanos que imigraram para o Brasil, o IBGE aponta que 99% está em Roraima, na cidade fronteiriça de Pacaraima e, também, na capital Boa Vista. A população do estado é estimada em 576,6 mil habitantes, e a da capital em 375,4 mil. Assim, o número de venezuelanos vivendo em Roraima corresponde a mais de 8% do total de habitantes da capital.
“Isso [a proporção de venezuelanos em relação à população local] é muita coisa. Roraima está vivendo um processo complicado para receber essa população e, sobretudo, para provê-la com serviços básicos”, destacou Izabel Merri.
Na semana passada, o governo de Roraima enviou ao governo federal um ofício com dez cobranças específicas para que o estado enfrente o fluxo desordenado de venezuelanos. Para embasar os pedidos, afirmou possuir 1.484 alunos imigrantes matriculados em suas escolas e ter atendido 7.457 venezuelanos em unidade estaduais de saúde neste ano. Destacou também ter 99 imigrantes venezuelanos no sistema prisional do estado, que demandam gasto mensal de R$ 2.014,58 cada um.
Número de imigrantes deve mais que dobrar em 4 anos
O IBGE estima que, até o final de 2018, mais 9,7 mil venezuelanos imigrem para o Brasil. Para 2019, o órgão projeta a entrada de outros 15,6 mil. A partir de 2020, essa imigração tende a diminuir. Mas, caso a projeção do IBGE se concretize, o Brasil deve chegar em 2022 com cerca de 79 mil imigrantes do país vizinho.
Nos próximos quatro anos, IBGE estima que número de imigrantes venezuelanos deve mais que dobrar no Brasil (Foto: Alexandre Mauro/G1)
As projeções do IBGE mostram que o colapso econômico tem relação direta com o fluxo migratório da Venezuela ao Brasil, que aumenta desde 2015. Com a piora da crise no país vizinho, a imigração se intensificou especialmente por terra. Assim, os venezuelanos têm de cruzar, muitas vezes a pé, a fronteira com o município de Pacaraima, norte de Roraima.
Assim, desde o começo deste mês, o governo de Roraima e órgãos do judiciário travam batalhas para fechamento ou controle das fronteiras com o país de Maduro. Veja a sequência:
  • 1° de agosto: A governadora de Roraima, Suely Campos (PP), assina decreto para endurecer as regras de acesso dos venezuelanos a serviços públicos do estado, que seria restrito apenas a imigrantes com passaporte;
  • 3 de agosto: A Advocacia Geral da União (AGU) pede ao Supremo Tribunal Federal (STF) a suspensão imediata do decreto do governo de Roraima por considerar que o ato é inconstitucional;
  • 5 de agosto: O juiz federal Helder Girão Barreto, da 1ª Vara da Federal de Roraima, determina a suspensão do ingresso e a admissão de imigrantes venezuelanos no Brasil. Segundo a Justiça Federal, a decisão se refere a entradas feitas pela fronteira do país com o estado de Roraima. A liminar não abrangia outras nacionalidades e vetava apenas a entrada de venezuelanos.
  • 7 de agosto: A fronteira do Brasil é reaberta para imigrantes venezuelanos após decisão do Tribunal Regional Federal da 1ª Região.
  • 20 de agosto: O governo de Roraima pede ao STF que suspenda temporariamente a imigração na fronteira com a Venezuela.
  • 28 de agosto: O presidente Michel Temer assinou decreto que autorizou o uso das Forças Armadas para reforçar a segurança no estado de Roraimaaté o dia 12 de setembro.
E nos outros países?
O Peru e o Equador passaram a exigir passaporte para a entrada de venezuelanos, o que não ocorria antes da crise migratória. A vizinha Colômbia, em outra linha, concedeu mais de 440 mil vistos temporários a imigrantes venezuelanos, após decreto editado por Juan Manuel Santos, antes de ele transmitir o cargo de presidente para o sucessor Iván Duque.

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