Os homens foram quatro vezes mais vítimas de overdose de cocaína no
Estado de São Paulo em 2013 do que as mulheres. A conclusão é de um
estudo acadêmico que traçou o perfil das pessoas que tiveram a morte
associada ao uso abusivo da droga naquele ano. O trabalho também apontou
que a maioria das vítimas é economicamente ativa e tem baixo grau de
instrução. As faixas etárias predominantes estão entre 19 e 30 anos e
entre 31 e 40 anos.
Autora do estudo, a biomédica Alessandra
Lapenta explica que ele foi realizado a partir da análise de dados do
Núcleo de Toxicologia Forense da Superintendência da Polícia
Técnico-Científica do Estado e considerou os registros feitos na
capital, na região metropolitana e no interior. Este tipo de recorte,
enfatiza, é inédito.
Em todos os 1.685 boletins de ocorrência
avaliados pela biomédica, as vítimas apresentavam cocaína no sangue, mas
somente em 88 casos foi possível relacionar, com certeza, o óbito ao
consumo do entorpecente. Do total de mortes por overdose, 86,4% foram de
homens.
A maioria dos registros aconteceu na capital (46,6%). O
interior aparece logo atrás, com 34,1%. A Grande São Paulo contabilizou
19,3% das ocorrências. Um detalhe surpreendeu Alessandra: usuários
esporádicos, em geral, estão mais sujeitos a morrer em razão do abuso de
cocaína.
— Apesar de a maior parte de usuários estar concentrada
no centro de São Paulo, onde há a Cracolândia, lá é a área em que houve
menos mortes. Normalmente, as crises de overdose que observamos foram
picos muito altos. São pessoas que não costumam usar a droga
frequentemente.
Dose fatal
A partir da
quantidade de 0,7 micrograma por mililitro de sangue, a cocaína é
considerada potencialmente letal. Dos 88 casos analisados, 17 estavam na
faixa de 0,7 a 1 µg/ml — o valor verificado em uma overdose clássica é
de 0,9. A maioria — 68,1% do total — apresentou concentração entre 1 e 5
µg/ml.
Os 11 casos em que foram encontradas concentrações
superiores a 5 µg/ml mereceram atenção especial da biomédica. Um deles
envolveu o que, no jargão do tráfico, é chamado de “mula” — pessoa
contratada para transportar a droga dentro do próprio corpo.
— Ela
ingere a cápsula que, muitas vezes, rompe [o que geralmente provoca
intoxicação aguda]. Foi achada com uma quantidade de cocaína muito
absurda [no organismo].
Uma parcela das mortes aconteceu dentro de
unidades prisionais do Estado, segundo constatou o trabalho, sendo que
dois internos vitimados teriam sido obrigados a ingerir uma mistura
apelidada de “Gatorade” — ela contém diferentes drogas, incluindo a
cocaína. Ainda conforme o trabalho, “há relatos de que organizações
criminosas inseridas nos presídios se utilizariam desse subterfúgio para
provocar a morte simulando uma overdose”.
— A cocaína em qualquer
via de administração, oral ou intravenosa, é tóxica. Não precisa de uma
quantidade de 0,7 micrograma por mililitro de sangue para ela ser
tóxica por via oral. Só não morre em uma situação dessa se a quantidade
da droga for muito baixa.
De acordo com Alessandra, uma das
conclusões do estudo, que teve como um dos orientadores o perito
criminal Julio Ponce, é de que a morte por overdose do entorpecente é um
problema tanto de saúde quanto de segurança públicas. O trabalho
destaca a necessidade de políticas voltadas para o grupo em que há mais
registros de óbitos.
R7

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