A matemática não é desafio só para quem está na escola. Pesquisa
realizada em 25 cidades brasileiras com adultos de mais de 25 anos
mostra que a maioria não sabe fazer operações matemáticas simples: 75%
não sabem médias simples, 63% não conseguem responder a perguntas sobre
porcentuais e 75% não entendem frações, entre outros resultados
dramáticos.
Em avaliações similares em países ricos, o resultado é
em média quatro vezes melhor. O estudo ainda
aborda a rejeição que o
tema provoca. A matéria mais detestada foi matemática, com 43% das
respostas. A memória que os adultos têm do assunto é até pior: 65% dizem
não ter tido facilidade com a disciplina na escola.
Segundo o
coordenador do estudo, Flavio Comim, docente da Universidade Federal do
Rio Grande do Sul (UFRGS) e professor visitante de Cambridge, no Reino
Unido, os dados reafirmam os diagnósticos de que o ensino de matemática
tem falhas. “Essas deficiências acarretam impactos econômicos e
sociais”, diz ele. “Uma sociedade que sabe pouco de matemática é pouco
competitiva, como mostra a comparação internacional. Também mexe muito
com a sobrevivência das pessoas, porque define o que você compra, se
fará um financiamento”, afirma. Outro resultado do levantamento indica
que 69% não sabem fazer contas com taxas de juros.
O estudo foi
encomendado pelo Instituto Círculo da Matemática do Brasil, iniciativa
da TIM, e 2.632 pessoas foram ouvidas, com idade média de pouco mais de
40 anos. A amostra não foi organizada por renda, mas pelo número médio
de anos de estudo, que ficou em torno de 8,3 anos de escolaridade.
Perfis
Há
diferenças quando se olha para quem estudou mais ou menos. Enquanto 28%
dos adultos com mais de 15 anos de estudo não sabem fazer regra de
três, o índice é de 71% entre quem tem até 8 anos de escola. No geral,
60% das pessoas tinham matemática entre as disciplinas que não gostavam
na escola. Para Katia Stocco Smole, diretora do grupo Mathema, de
formação e pesquisa em ensino de matemática, o dado não surpreende, “mas
incomoda bastante”. “As pessoas não gostam porque nunca fez sentido
para elas. A escola não ensinou a entender o sentido desses conceitos
básicos. Quando aprendem, gostam.”
Segundo dados do Sistema
Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb) de 2013, apenas 9,3% dos
jovens terminam o ensino médio com o nível adequado na disciplina. Além
das falhas na escola, a visão das crianças acaba também influenciada
pela ojeriza dos adultos. “Tem um efeito intergeracional e essa aversão
vai passando de pai para filho”, diz Flavio Comim.
O representante
de vendas Bruno Singer, de 36 anos, diz usar com certa facilidade os
conceitos básicos da matemática no trabalho, mas recorre à calculadora
nas tarefas mais complexas. “Tenho a impressão de que muito do que
estudei na escola eu não uso no dia a dia”, diz ele, formado em
Administração. O estudo mostra que 89% das pessoas dizem que nem sequer
usam a matemática no dia a dia. Para o também vendedor Bruno Costa, de
28, a tecnologia ajuda. “No trabalho, as projeções chegam prontas. Mas
tem de saber fazer a leitura daquilo”, diz.
Trauma. Ao saber do
tema da conversa, a enfermeira Simone Pavani de 48 anos, já titubeia.
“Sempre foi a disciplina que tive de me esforçar mais. Às vezes estou
fazendo uma compra e tem um desconto de 10%. Fico me perguntando ‘será
que foi isso mesmo?’” comenta, rindo. “No trabalho me viro bem, mas
percebo colegas mais novos com dificuldades.” Coordenador-geral da
Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP), Claudio
Landim diz perceber uma lacuna na formação dos professores, mas é mais
otimista com as novas gerações. “Nós vivemos em um mundo cada vez mais
tecnológico e a matemática está por trás dos programas, do aplicativo de
celular. Isso tem despertado interesse cada vez maior”, diz Landim, que
é diretor adjunto do Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada
(Impa). “Há uma melhora, mas não será da noite para o dia.” As
informações são do jornal O Estado de S.Paulo.
Diário de Penembuco
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