O recém-eleito presidente da Câmara dos
Deputados emerge como uma força surpreendente, capaz de demitir ministro
e imprimir derrotas acachapantes ao Planalto.
Ao anunciar no plenário da Câmara, impávido por trás dos óculos, que o
ministro da Educação acabava de ser demitido, o presidente da Casa,
Eduardo Cunha, dirimiu qualquer dúvida sobre a relação existente entre o
poder e o vácuo. Como na natureza, o primeiro abomina o segundo. Sendo
assim, ao enfraquecimento do Poder Executivo, materializado na
reprovação recorde da presidente Dilma Rousseff, sobreveio o imediato
fortalecimento do Legislativo – embalado na figura até há pouco
desconhecida de Cunha.
Eleito para o quarto mandato de deputado federal com 233 000 votos,
Eduardo Cunha conquistou a presidência da Câmara dos Deputados em
fevereiro, contra a vontade da petista. Desde então, ele vem impondo à
presidente uma sequência de derrotas e constrangimentos. Quanto mais ela
se fragiliza, mais ele exercita os músculos. Esse intercâmbio de poder
ficou claro na semana passada. Cunha convocou Cid Gomes a prestar
esclarecimentos na Casa por ter declarado que lá se encontravam “300 ou
400 achacadores”. Cid entrou ministro da Educação e quando saiu era
ex-ministro. Cunha exigiu a sua demissão e conseguiu. Para sublinhar a
vitória, anunciou ele próprio a saída do ministro – fez isso sentado em
sua cadeira de presidente da Câmara e antes mesmo da divulgação oficial
da notícia.
Ao mandar para casa um quadro pertencente à cota pessoal da
presidente e peça-chave na estratégia governista de reduzir o poder do
PMDB, Cunha, aos olhos de correligionários, “vingou” a sigla. Colegas
passaram a chamá-lo de “primeiro-ministro”. “Ele se tornou a principal
pessoa a enfrentar o PT e o governo. Isso estava faltando ao nosso
partido”, diz o ex-presidente José Sarney. Não que a proverbial
incontinência verbal da família Gomes não tenha facilitado a façanha.
Com VEJA
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