Uma auditoria
da CGU (Controladoria-Geral da União) aponta que falhas no controle do
sistema do Prouni (Programa Universidade para Todos) fizeram o governo
federal conceder e pagar bolsas a alunos já mortos. Além disso, outros
beneficiados estavam fora da faixa de renda indicada e alguns
continuavam inseridos como recebedores de bolsas mesmo com o curso
concluído.
Para chegar à conclusão de que pessoas mortas recebiam a bolsa, foi
feito um cruzamento de dados entre o Sistema Informatizado de Controle
de Óbitos (Sisobi) com o sistema de dados do Prouni. O resultado
encontrado foi que 47 beneficiários já haviam morrido e contavam como
“em utilização-Bolsista Matriculado.” O mais grave é que um deles morreu
antes de se tornar bolsista do Prouni –outros 46 morreram após o
recebimento da bolsa.
A auditoria avaliou não só cursos, como dados dos campi, candidatos e
bolsistas de todas as regiões do país. A investigação envolveu 291
fiscalizações, além da análise de dados do SisProuni (Sistema
Informatizado do Prouni), entre os anos de 2005 e 2012. O resultado foi
divulgada no último sábado (23). A íntegra do levantamento pode ser
conferida aqui.
A análise de dados da CGU incluiu 1.043.333 bolsistas, 1.548.768
candidatos inscritos no processo seletivo do 1° semestre de 2012 do
Prouni e 1.833.039 familiares dos bolsistas.
Ao MEC (Ministério da Educação), a CGU recomendou “criar rotinas para
a utilização do Sisobi quando do cruzamento de dados”. Em resposta, a
secretaria do MEC informou à CGU que “incluirá no Módulo de Supervisão
de bolsistas no Sisprouni o cruzamento do cadastro de bolsista com a
base do Sisobi, assim como já fez com outras bases de dados oficiais” .
Segundo a CGU, uma nova consulta foi feita com base nos dados do 1º
semestre de 2012, e não havia mais bolsistas mortos registrados como
ativos.
Outros problemas
O pente-fino da CGU encontrou diversas outras irregularidades que, segundo o órgão, demonstram a fragilidade do sistema.
Uma delas é que alunos não brasileiros e não naturalizados recebem
bolsa, o que é proibido pelas regras do programa. Segundo a consulta, 58
registros de candidatos foram achados.
“Esse fato aponta mais uma fragilidade no sistema, pois este deveria
ter realizado críticas, impedindo o prosseguimento da inscrição de
candidatos em desacordo com os critérios do programa”, relata.
A auditoria encontrou bolsas concedidas a candidatos cuja renda
familiar não atendia aos critérios do programa. “Do cruzamento dos dados
verificou-se uma ampliação do número de concessões para 4.421 bolsistas
cuja renda per capita não atende aos critérios de renda do programa.”
Segundo a regra do Prouni, os estudantes com renda per capita
familiar de até um salário-mínimo tem direito a bolsa integral, enquanto
os que tem renda de um a três salários mínimos tem acesso à bolsa
parcial.
Outra irregularidade é que cinco alunos estavam com status de “bolsa
encerrada por conclusão do curso superior” e, ao mesmo tempo, possuíam
“bolsa em utilização”.
Os resultados também mostram que as instituições de ensino superior
tinham dados divergentes de número de alunos. “Verificou-se que dos 446
cursos avaliados, de um universo de 7.120, 113 deles (25,3%)
apresentaram divergências nos quantitativos informados”, aponta o
relatório.
Dos 86 campi analisados, 32,6% deles (28) apresentaram
“inconsistências quanto à oferta de bolsas de 125 cursos.” Também foram
encontrados CPFs com divergência de titularidade –entre 2007 e 2010
foram 402 casos.
Sobre os estudantes, 15% dos analisados tinham ausência de pelo menos
um dos documentos prevista na legislação. É essa documentação que
comprovava os critérios de elegibilidade do programa.
O Prouni concede bolsas de 50% ou 100% em faculdades particulares a
estudantes de baixa renda. Em troca, as instituições de ensino superior
recebem isenção fiscal. Entre 2005 e 2013, as bolsas levaram a uma
estimativa de renúncia de receita das entidades privadas de R$ 3,94
bilhões.
A reportagem do UOL entrou em contato com a assessoria do MEC na manhã desta segunda-feira (25) e aguarda posicionamento.
UOL
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